DISCURSO PANEGÍRICO EM HONRA AO MEU QUERIDO AMIGO, RECÉM FALECIDO, AVELINO ALEXANDRE COLLET!

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PANEGÍRICO PARA AVELINO ALEXANDRE COLLET
Na Academia Rio-Grandense de Letras é cláusula estatutária a realização de uma solenidade para que um dos acadêmicos faça o discurso panegírico de Acadêmico falecido. Sem esta homenagem póstuma não pode ser preenchido o elo rompido pelo falecimento com subsequente preenchimento da cadeira ocupada anteriormente por ele. Assim, através dos anos, uma cadeia de nomeações e seu rompimento, por falecimento ou outro tipo de defecção, faz com que se mantenham os elos desta imensa corrente que leva do passado, passa pelo presente e vai em direção ao desconhecido futuro, eterno e infinito, ligando e ungindo a tradição cultural e as obras individuais que formam a cultura de um lugar no caso, da Academia, do nosso Estado do Rio Grande do Sul nascido da antiga Província de São Pedro. Todos os estados do Brasil, e inclusive ele, possuem suas Academias entes criados por inspiração nos atos do Cardeal de Richelieu que em 1635, criou a Academia Francesa com seu modelo de 40 cadeiras ocupadas pelas figuras mais eminentes da cultura e literatura da época e que de lá para cá vai movimentando-se através do tempo ao compasso da vida e da sua alternância que tem seu condão de luz tão efêmero. Lembro-me do frontão da capela de Évora que lucidamente adverte: “Nos ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos!” “Tempus Fugit“ que na música moderna repete o refrão num jazz americano: “As time goes by!” da parceria de Herman Hupfeld, Romains Leleu e Tony Paeleman tornada famosa pela voz de Frank Sinatra. Eu, aqui na Academia, já fiz o panegírico de dezenas de meus confrades pois era um dos mais moços e nunca imaginei fazer o panegírico de meu querido amigo Avelino Alexandre Collet. Demorei para escrever o que hoje leio pois meditava no meu luto e a minha maneira passava pelo processo de separação, de ausência, de saudade deste querido amigo de todos os dias. Na minha idade de 75 anos já perdi os avós, pais, irmão, dezenas de parentes, dezenas de amigos e conhecidos, vamos ficando como “arvores do deserto” como dizia um célebre político do Rio Grande, resistentes e secos, mas o luto é algo muito mais complexo do que pensa a vã filosofia e as pessoas rasas. Ficam sepultadas as emoções as vezes por meses, quiçá anos, e, de repente, quanto menos se espera entram em erupção! Eu sei isto na carne…perdi a esposa e velei, e sepultei e me quedei mudo e quieto e não me vieram lágrimas aos olhos…nunca…outro dia…meses depois encomendei vidros para os banheiros e esperava o vidraceiro – daquelas esperas que se perde o dia ou por todo o período da manhã ou toda a tarde – lá pelas tantas…esperando….não sei se por escutar uma música, ou pelo canto dos sabiás, algum perfume…não sei o que acionou o processo….me pus convulsivamente a chorar sem parar quando a campainha da casa soou e era o homem dos vidros que chegava! Pensei cá comigo…não vou abrir…. como vou recebê-lo chorando aos prantos…o homem vai se quedar horrorizado…mas pensei…. terei de esperar mais tantos dias…. perderei as horas despendidas…e tomado de coragem atendi a porta em prantos…o homem espavorido contemplou minha dor e meus soluços com os olhos arregalados…e foi atropelado por minhas palavras que soavam…. morreu minha esposa…. ele atônito sem palavras…pálido…gaguejou e principiou num choro emulativo e convulsivo idêntico…dizendo: Hoje faleceu minha mãe!!! Subimos abraçados ambos chorando nossas perdas e lhe indiquei os banheiros e os problemas sem solução no projeto arquitetônico…e ele…solidário na dor comigo…entendendo a minha dor …e criando e estabelecendo pontes através da dor…pois sofria idêntica falta disse-me otimista libertando-se ainda com a voz embargada e chorosa: “O senhor deixa tudo comigo que eu conserto tudo para o senhor!” Sim a dor mora, no luto, aprisionada por vidros invisíveis que se partem quando menos se espera. Pois assim é…e o processo de resilição pessoal e do mundo nascem concomitantes. Meu avô repetia: “O que não tem solução solucionado está!” E assim vamos adiante fazendo-se os registros pertinentes do homem, sua vida e sua obra, mas marcando antes de tudo, como queria o grande poeta Vinicius de Moraes:
A HORA ÍNTIMA
Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?

Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: – Não há de ser nada…
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?”

Sim, foi-se o amigo, o homem altruísta e generoso, o amigo, o pai, o amante, o parente, foi-se o grande homem e ser humano que ocupava a cadeira nº 21 da Academia Rio-Grandense de Letras e que hoje, faz-se o panegírico discurso laudatório de sua obra na seara da cultura gaúcha.
Avelino Alexandre Collet nasceu na pequena localidade de Sanga Funda, Erexim, onde em Reflexões Contemporâneas, traça o que chama de Espaço Geográfico de minha Infância, numa proesia cheia de saudades “…onde na mataria virgem …escutava o murmúrio da cascata; o chilreado do passaredo; as melodiosas cantigas que reboavam pelas canhadas; envolvia-me pelo aconchego das tardes ensolaradas e outonais e o esplendor das noites pontilhadas de estrelas resplandecentes…e ele logo após divisa o fantasma do tempo que tudo dissolve e clama…”Que foi feito de ti, ó casinha modesta, que abrigas-te os meus primeiros dias de existência ? Que foi feito de ti, ó córrego de águas límpidas que corriam por entre os seixos e não existe mais? Onde foram parar os fantasmas que agitavam minha acesa imaginação? Qual o paradeiro dos carrinhos de lomba, fabricados de pura madeira que desciam velozmente ladeira abaixo? Onde estão as pitangueiras, os laranjais, os plátanos, os cinamomos, junto aos quais passava os dias brincando em meio a inocentes e distraídos folguedos? Tudo se exauriu na marcha truculenta e irracional do tempo? “ Diz Avelino como digo eu sobre o homem que continha todas suas memórias e esvaiu-se no tempo como eu e todos nós aqui presentes iremos como centelhas vivas e momentâneas desaparecer no séquito do tempo que canta a música infantil e inesquecível que ainda ecoa dentro de todas nossas almas tão efêmeras: “ Passa passará, o detrás ficará, a porteira está aberta para quem quiser passar…passa passará o detrás ficaráaaaa….”
Sim! Avelino Alexandre Collet nasceu neste espaço geográfico de Sanga Funda, um topográfico bem característico do dialeto gauchesco que expressa a magia e a alegria de seu viver infantil, adolescente e juvenil pois, por obra de seus pais, a quem sempre venerou, e eu sou testemunha de suas confissões e confidências intimas, sempre amou e os endeusou pois, foram eles que facultaram ao Avelino que com 17 anos saísse da colônia e não ficasse de arrimo, como uma propriedade dos pais, numa espécie de “minorato”, cuidando-os na velhice, e com já tardios 17 anos, eis que aos que as crianças de hoje é dado iniciarem-se em creches e jardins suas socializações e alfabetizações, dependendo da necessidade dos pais, nas creches, como bebes ou de 1 até quatro anos e até cinco anos, quando saem da pré-escola ingressando na Escola com 4 anos! Pois Collet só nesta tardia de 17 anos de idade iniciou o conhecimento das letras e a sua tardia alfabetização. Vivemos no Brasil! País de profundos contrastes! E o Brasil longínquo da época de Avelino, de sua infância, era um Brasil mais difícil, com menos recursos, sendo a civilização uma leve mancha de ilhas e arquipélagos de pequenos povoados sem energia elétrica, sem estradas, sem pontes, onde a colonização recém se consolidava e organizava a vida humana conforme os ditames da civilização. Sua raça vinda da Itália e em viagens à Europa Avelino me contou a saga de um seu trisavô que vindo, com o sobrenome Collet, veio de França e estabeleceu-se na Itália porque, em função das constantes guerras da época, não conseguira voltar para a França. Avelino, em Paris, acompanhado comigo e alguns de meus filhos, localizou as lápides do tronco Collet que estavam no cemitério Pére Lachaise como já havia, anos atrás, em viagem com um sobrinho e seus irmãos, visitado a vinícola famosa dos Collet em França. Avelino Collet é como se fosse um personagem de romance pois teve uma vida cheia de contrastes e riquíssima e que mais se enriqueceu pela condição peculiar de inteligência e de superioridade de seu espírito plasmado na generosidade e na bondade. Como Julien Sorel personagem principal do romance O Vermelho e o Negro, de Stendhal, Collet, como o personagem é um jovem pobre e talentoso que deixa a colônia para ascender culturalmente e socialmente no Rio Grande! Há espíritos e cérebros já burilados e que já nascem feitos! Eu chamo a este fenômeno de “efeito João de Barro!’ O pássaro João Barreiro não vai a escola, não estuda, mas, no entanto, as gerações deste pássaro, guardam em sua memória atávica, transmitida geneticamente, a fórmula e o jeito de fazer sua pequena e perfeita casa de barro que é uma dádiva da natureza em perfeição e resistência ao tempo e aos predadores, facultando, como ninho, a procriação e a vida a esta espécie de ave. Tanto a religião, como até a ciência explicam estes fenômenos que acontecem com vários seres humanos que possuem uma habilidade de saírem e vencerem lutando contra todas as desvantagens e adversidades injuncionais em que estejam inseridos ou imersos. Com todo o respeito à ciência Espírita, de Alan Kardec, já ouvi falar em “efeitos dejá vu” e em reminiscências de “outras vidas”, mas prefiro a tese defendida por Carl Gustav Jung com seus “arquétipos coletivos”, conforme defende em sua obra O Homem e seus Símbolos, que entranhados geneticamente e da mesma forma transmitidos entre as gerações de humanos, transmitem como um efeito “João de Barro” entranhado, habilidades e qualidades que fazem a diferença em indivíduos. Sthendal no livro citado O Vermelho e o Negro descreve a diferença de seu personagem Julien, que a semelhança de Collet, com suas mãos delicadas, não afeitas ao trabalho grosseiro da roça, sua aguda inteligência e sensibilidade, que o desemparelhavam de seus coevos na lavoura fazendo com que seus pais, tanto os da ficção de Stendhall como os da realidade de Collet, aconselhassem a seus filhos que saíssem da roça e fossem rumar e ascender no caminho do estudo e da cultura. Assim é que Collet como um ser diferenciado começou sua ascensão espiritual e cultural terminando o primário e me descreveu a magia ou perfeita alquimia de já com idade ter descoberto a mágica das letras e o que faziam juntando-se pronomes, verbos e a dádiva de relembrarem e evocarem por seus símbolos, as letras, por estarem gravados nos livros ou mesmo nas escritas das pessoas. Todo este processo o engolfou e o levou num salto a conseguir empregos mais qualificados, progredir nos estudos e vir até a Pontifícia Universidade Católica onde, com um primo, um desembargador falecido e muito seu amigo, trilhando a mesma sina e saga, ambos, junto ao irmão José Otão, a quem Collet sempre me relatou sua gratidão para com ele, conseguirem uma bolsa de estudos para poderem terminar a faculdade pois no que trabalhavam na época não tinham condições de arcar com o custo deste curso. Superação atrás de superação Collet ainda jovem, e deste período me confessa sua atroz timidez com o sexo oposto, a semelhança do personagem Cyrano de Bergerac na peça teatral escrita em forma de poema por Edmond Rostand que fica em contradição com sua habilidade de fala e expressão e, que tendo os recursos, que o personagem de Rostand não tinha, operou seu nariz de origem francesa próprio de sua etnia para gozar de um nariz menos aquilino e mais conforme as plagas tropicais e aos gostos tropicais sendo que daí, surge sua verve para, anos depois escrever uma de suas obras primas UM HOMEM E UMA MULHER que é um receituário das maneiras e formas de sedução e de relação entre o homem e a mulher. Collet sempre amou a perfeição estética e para ele a beleza significava a representação da justiça tanto é que num de seus famosos discursos, num lampejo de retórica, resgatou perante os ouvintes boquiabertos o famoso julgamento de Frinéia na Grécia, mulher rica e belíssima, que com sua nudez frente ao Tribunal que a julgava recebeu a absolvição dos juízes , tão embevecidos como Collet, pelos atributos estéticos do belo sexo! A revelação atávica ou exsurgimento de suas habilidades como ser humano levaram-no a ser aprovado no concurso para Promotor no Ministério Público atuando em várias comarcas e, por concessão legal do Estatuto do Ministério Público naqueles anos, poder exercer, no que não fora incompatível com seu ofício público, a advocacia, o que fez com que se abstivesse, em várias oportunidades, de ser promovido de entrância para a entrância ficando sediado em regiões onde de forma legal e compatível pudesse da mesma forma advogar. Atividade que sempre o atraiu e que o levou mais tarde, além da inscrição na OABRS, também ser sócio e posteriormente Vice-Presidente e inclusive Orador Oficial do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul. Diga-se de passagem que Avelino era um legítimo tribuno romano, um Cícero, um Marco Aurélio, pois dominava a oratória que utilizava nos Juris de sua atividade na função de Promotor Público, como também em discursos laudatórios, saudações, inaugurações, tendo aperfeiçoado tanto sua postura, respiração, entonações e falas, conjugadas com a metodologia da explanação e da lógica formal do convencimento e da manutenção da atenção vivida das plateias que se embeveciam com o som e a riqueza de comunicação e beleza de expressão e gesticulação justa na expressão de suas falas. Fez vestibular para a Escola de Artes Cênicas da UFRGS sendo aprovado e cursando para, como ator, aprender a memorizar e a se expressar em público vencendo a timidez e ganhando domínio sobre o público e a forma e domínio da expressão fonética e oral. Esmerando-se cursou Jornalismo que com diversas cadeiras alimentavam sua verve tanto poética como da oratória sendo que produziu A EMOÇÃO DA PALAVRA – Oratória Selecionada com a publicação de várias de suas falas, entre elas, uma dedicada ao desembargador Clarindo Favretto, seu primo e companheiro de saga mencionado em epígrafe. Escreveu mais tarde um verdadeiro Vade Mecum da Oratória que é ORATÓRIA Comunicação por Excelência, onde dá as fórmulas aprimoradas por anos de prática e observação.
Assim seguindo a tese de Carl Yung sobre a figura ímpar de Collet podemos dizer que este incrível ser humano, gentil, educado, conciliador ao máximo, sério, honesto, coerente, honrado, leal até a morte, amigo, era uma figura Clássica, como se saísse da máquina do tempo direto da Grécia ou Roma antiga. A ele aprazia a história antiga e as peças e poesias com os seus autores da época que citava de cabeça e sua obra, tanto a de oratória, como a poética e seus escritos da área de ética e filosofia são aquelas que tem a marca genética do tempo que carregou incrustrado em seu próprio genoma de ser vencedor como um “bone pater familiae”, cuja família sempre respeitou e cuidou legando-lhes acervos e conselhos morais, éticos e materiais, ajudando-os quando necessário; como “bone pater” utilizando-se de sua capacidade “libertatis e civitatis”, como sempre atuante líder partidário filiado ao Partido Democrático Trabalhista onde foi indicado pelo nosso amigo e correligionário o saudoso governador Alceu de Deus Colares, recentemente falecido, benfeitor também da Academia Rio-Grandense pois que lhe doou o prédio onde ora tem sua sede. Assim é que meu amigo , Avelino Alexandre Collet, ocupante da Cadeira numero 21 da Academia Rio Grandense de Letras, escritor erechinense, professor e orador, aposentado do Ministério Público (Promotor de Justiça) faleceu na manhã da quarta-feira, 17, em Porto Alegre, onde residia. Ele tinha 92 anos e era Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica/PUC-RS. Seu corpo foi transladado para Erechim e o velório aconteceu na quinta-feira, 18, das 8h às 15 h, na Capela do Hospital de Caridade daquela cidade. O registro do necrológio da Academia reza que Avelino Collet ocupou a Cadeira 21 do sodalício desde 29/03/2007, na sucessão do acadêmico Hélio Moro Mariante dizendo que o confrade Avelino Collet será lembrado por todos os seus colegas da Academia como uma pessoa de uma sabedoria clássica e de postura extremamente afável e elegante tendo presidido a Academia entre setembro de 2015 e dezembro de 2017, período no qual, graças aos seus esforços, a instituição conseguiu conquistar grande reconhecimento público, conquistando, inclusive, as comendas “Porto do Sol” (da Câmara Municipal de Porto Alegre) e “Simões Lopes Neto” (do Governo do Estado) pelos trabalhos desenvolvidos em prol da cultura. Sempre agregador, foi também na sua gestão que se realizou o 1º Congresso Estadual das Academias de Letras do RS, reunindo todas as entidades congêneres em nosso estado. Avelino Collet deixa-nos um exemplo de virtude e tenacidade.
Também pertencia a Academia Erechinense de Letras (AEL), onde foi mentor e membro fundador e ocupava a cadeira nº 02. Fez parte das Comissões da AEL de 2014 a 2019.
Tem vários livros publicados, entre eles: “Um Homem, uma Mulher”; “A Emoção da Palavra”, “Oratória: Comunicação por Excelência”, “Reflexões Contemporâneas” e “Minha Última Viagem”; “O Renascimento do Século XXI”; “Tempos Explosivos: Dívida Externa, Socialismo, Constituinte”;
Ele também foi membro de outras instituições culturais, como a Estância da Poesia Crioula, o Instituto dos Advogados, a União Brasileira de Escritores e a Casa do Poeta.
Foi secretário de Estado da Secretaria Especial de Assuntos Internacionais em 1994 (governo de Alceu Colares) e ministrou vários cursos de oratória.
Também escreveu prefácios e artigos para diversas publicações. É considerado um dos maiores oradores do Rio Grande do Sul e um defensor da cultura regional. Recebeu vários prêmios e homenagens por sua trajetória literária e profissional, como a Medalha do Mérito Farroupilha, a mais alta honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Estado; Prêmio Literário Academia Rio-Grandense de Letras, que leva seu nome; e o Prêmio Destaque Jurídico 2017, concedido pela Associação dos Advogados de São Paulo.
Eis a trajetória e a saga deste grande homem que, pelas suas próprias palavras conta em sua obra Reflexões Contemporâneas, o seu momento de LIBERTAÇÃO, que aconteceu assim como ali relata: “No dia 20 de fevereiro de 2008, encontrava-me num Cruzeiro de Turismo…pelas nove horas da noite , navegava no alto mar…sai da cabine e fui para a varanda…sentei-me comodamente na cadeira e tive uma visão privilegiada, como nunca antes tinha presenciado. …ao ver-me envolto por uma noite semeada de astros, fui tomado de espanto e desapareci por entre os mundos. Meu pensamento voou para a eternidade…e lá presenciei essas grandiosas constelações que apontavam suas luzes sobre minha fronte. Senti-me um pouco perplexo e desapontado, ao perceber que essas deusas iluminadas continuarão a resplandecer com a mesma intensidade, por milhares e milhões de séculos sobre outros que virão. Senti a presença de Deus percorrendo as instâncias sem fim do universo. E que num gesto supremo e divino, orquestrava a cadencia dos astros em perpétua harmonia. Ele criou os mundos, a matéria, os espíritos, os seres todos, conferindo-lhes uma dimensão de incomparável magnificência. Nesse instante, subitamente, pela primeira vez, tive a viva e iluminada compreensão de que toda a criação concebida por Deus, fora arquitetada com transcendente grandeza. E como arremate, criou o homem para ser grande, para entender, ao menos em parte, a obra majestosa, olímpica e infinitamente impactante. O meu encontro com a natureza viva, foi um momento mágico que o tempo jamais apagará. Momento de libertação! Ali num impulso olímpico, uma catarse redentora baniu o fardo construído por comportamentos de inferioridades, inseguranças e temores que povoaram dramaticamente a minha caminhada existencial.” E é assim que Avelino Alexandre vai caminhando liberto e diz, já com seus instrumentos de vida seguros, no mesmo livro Reflexões Contemporâneas ( fls 21) “ Sócrates ensinou: “conhece-te a ti mesmo”. E eu digo: Rebela-te a ti mesmo. Essa rebelião se traduz na busca da imperturbabilidade do espírito. Uma revolução interior de armas poderosas é a resposta definitiva e reveladora que o ser humano necessita. Tudo do que precisamos está dentro de nós. Não olvidar nunca que a mudança é uma porta que se abre pelo lado de dentro. Escavar continuamente dentro de nós mesmos, é um processo de conhecimento que requer tempo, observação acurada, paciência beneditina, estudo perseverante de sim mesmo e um mergulho vertical no fundo da mente.” Este o relato público feito no texto aberto de sua obra que, hoje, abro ao público, neste momento que Avelino sempre usou avental de obreiro, pois foi iniciado na Loja Simão Bolívar do Grande Oriente do Rio Grande do Sul, eu estava presente no dia de sua iniciação e não fui o mentor da mesma, eu era muito moço na época, conhecia Avelino como uma referência do partido onde eu também militava o PDT e da área jurídica mas, na área iniciática, como Collet trilhava os mesmos caminhos da Integração da América Latina, como Secretário Internacional do Estado, no governo Colares, que também era um irmão querido, aí, nesta expressão de sua obra, de alguma forma revela o mito da construção de si próprio ou do burilamento da pedra bruta com o arremate, confessado em vários momentos, em nossas libações noturnas, da admiração de Collet pela filosofia estoicista de Zenão que tanto cativou Cícero como também Sêneca seus exemplos de vida e obra! Collet cultivava muito e citava de memória muitas citações feitas pelo grande ensaísta francês Michel de Montaigne. Considero sua obra prima o livro O Renascimento do Século XXI, pequeno grande opúsculo que na sua síntese traz o fulcro vivo das regras de equilíbrio, do culto das virtudes, como foram elas enumeradas por Platão em sua obra A República; como Aristóteles em A Política; Como Cícero em A Política e a Arte de Envelhecer; como Sêneca em suas obras como Cartas a Lucílio onde tem alí o seu brocardo preferido: “Res severa verum gaudium”. Traduzido como a paz maior é aquela interior…a modo da serenidade pessoal, da contenção, do autocontrole…em suma a quinta essência do estoicismo de Zenão e tantos outros. Assim é que nesta obra Collet segue a senda do esquadrinhamento das virtudes e dos dons que tornam a vida harmônica e aprazível individualmente ou socialmente a maneira dos antigos ou seus seguidores como Erasmo de Rotterdam, prefaciado por Tomas Morus, em seu Elogio a Loucura; ou como o Barão de Feuchtersleben em sua “ Hygiene da Alma”, no começo do século vinte, no auge da primeira guerra, 1914, em sua obra na versão portuguesa traduzida e prefaciada por Ramalho Ortigão. Collet lutava não contra o crístico, o essencial da doutrina de Jesus Cristo, mas pregava e se revoltava contra a alteração da religião que teria adulterado a doutrina originária cristão colocando um senso de culpa em tudo, na vida, no sexo, nas conquistas do homem, e por isto escreveu e titulou sua obra como o Renascimento do século XXl, aquele defendido por Richard Bach em sua obra Fernão Capelo Gaivota, cujo personagem uma Gaivota que voar além, cada vez mais alto, sem temor como Ícaro que foi agrilhoado a um rochedo tendo seu fígado comido eternamente por uma águia…sim sem temor e ele as fls 78 de sua obra citada diz : “Nunca mire para baixo! Somos herdeiros de longos e atribulados séculos de equivocadas imposições doutrinárias, as quais asseveravam que o ser humano é débil, fraco, frágil, pecador, cheio de culpas. Porém, felizmente, um novo tempo está surgindo, onde será cultivada a mentalidade da elevação. Não faltam exemplos proclamadores: Goethe sintetizou: “Cada vez eu tenho de subir mais alto, cada vez eu tenho de olhar para mais longe.” Walt Whitmann exultava: ”Eu canto a mim mesmo, meus cânticos são os da expressão e do orgulho”. Fernando Pessoa poetava: “Para ser grande, tu precisas ser inteiro”. O grande poeta latino Horácio proclamava: “Eu toco os astros como minha fronte erguida”. Sófocles, maior teatrólogo da Grécia Antiga, afirmou solenemente: “Existem muitas maravilhas neste mundo, mas a maior de todas é o homem.” E Aristóteles: “Não basta pensar com excelência; precisamos agir com excelência.” Devemos nos inspirar nesses vultos e caminhar resolutamente como seres livres criados pela natureza.”
Eis o homem ; eis sua obra; eis o tempo que passa…
E por sua poesia no tempo podemos medir suas resistências e sua aquiescência final e encontro com o Grande Arquiteto do Universo, que é Deus Santificado!
Em 2010 Collet declama e escreve em sua oba Reflexões Contemporâneas ( pag 124\125)

NÃO Á MORTE

Não! Repetirei sempre esse não
Até o fim!
Não quero te ver.
Não quero te perceber.
Não quero te ouvir!
Falar em teu nome?
Não, nunca, jamais!
Resistirei a todos os teus apelos
Pálida figura de todas as mágoas
Recuso o silêncio de tua eternidade
Irmã gêmea da dor
Antítese da vida
Muda, peregrina e sempre atenta
Vagueias por toda a parte
Voraz de gula insaciável
Fazes a ronda da vida
Para aprisioná-la
Ao sono sem fim dos túmulos
A frieza do duro mármore
Oh! Espectral fantasma
Oh! Amedrontadora da noite,
Sem nunca pedir licença
Sobes por todos os muros
Entras por todas as portas
Invades todos os lares
E um dia sorrateiramente
Teus passos
Com meus passos se compassarem
No derradeiro gesto dos meus lábios
Balbuciarei minha última palavra
NÃO!

Dez anos depois, em UM HOMEM E UMA MULHER
CONCILIADO COM O UNO, QUE É DEUS, COLLET DECLAMA:

A RONDA DAS ESTRÊLAS

Vago pela noite adentro alheio a este mundo
Sempre de fronte erguida para o firmamento
Arrebatado, em transe, assisto ao movimento
Das estrelas cintilando pelo céu profundo

Estrelas eternas, transbordantes de sentido.
Em noites altas, sonho com elas e me levanto.
Embriagado de êxtase e tomado de espanto.
Cuido de amá-las envolto por um amor incontido

Por que essa enlouquecida obsessão
Pelas estrelas que se agitam no infinito?
Não sei dizer, mas sei que tudo está escrito
No santuário secreto do meu coração.

Que noites! Transporto-me para a luz das estrêlas,
Em seu brilho vejo-me no espelho do firmamento;
No contraste entre suas luzes e meu pensamento,
Angustia-me o mistério de não poder compreendê-las

Rogo aos ventos que revelem minha dor
Às estrelas indiferentes e distantes;
Elas são minha paixão, minhas amantes,
Vestais que enchem o universo de amor.

Estrelas, jóias de ouro, esplendor e magia
Circunvagando pelos espaços siderais.
Ronda-me a inquietude que, em nada me alivia,
De pensar que em breve não as verei nunca mais.

Tudo se relaciona a tudo, e tudo me seduz.
Minha essência faz parte de tudo o que existe.
E o tempo me diz nada se extingue, tudo persiste;
Sou originários das estrelas em forma de luz.

MUITO OBRIGADO!!!!!

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